A dor silenciosa dos idosos
Número de denúncias é bem menor que volume real de violência e abusos contra a terceira idade. Vergonha inibe queixas.
No Dia Mundial de Combate a Violência contra o Idoso, um alerta: a subnotificação de casos impede que um retrato da violência praticada contra idosos seja traçado no Rio Grande do Norte. Embora a Delegacia Especializada de Proteção do Idoso (Depi) e a Promotoria do Idoso em Natal não tenham o número exato de denúncias registradas em 2010, o delegado Marcus Venícius e a promotora do idoso Iadya Gama afirmam que o número de registros não representa a realidade. De janeiro a abril de 2010, a Depi registrou 42 queixas de violência contra idosos. Por mês, a Promotoria chega a registrar até 20 queixas, o que dá 240 queixas por ano.
Há dificuldade para pegar ônibus, porque motoristas "queimam" paradas Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press Onde deveria existir um grito de basta, há silêncio. O idoso sente vergonha, receio. Tem medo de denunciar e sofrer mais agressão; de reclamar e prejudicar um filho, um neto. Com receio de sofrer mais violência, alguns chegam a retirar a queixa antes da polícia instaurar o inquérito ou logo após os agressores serem notificados. "Eles fazem um pacto de silêncio. O idoso consciente só vai denunciar depois de ter sofrido muito. Eles não querem penalizar quem amam. Há uma subnotificação, sim. Uma violência que não está registrada", afirma Iadya.
O perfil dos agressores é uma das causas da subnotificação. Segundo levantamento da Promotoria do Idoso, os principais agressores são filhos e netos - 47%. Isso mostra que quem deveria proteger agride, na avaliação de Iadya Gama. Em seguida, vem a violência praticada nos hospitais, abrigos e transporte - 36% do total. Além da violência doméstica e no transporte, os idosos também sofrem com retenção de cartões magnéticos e desvio da aposentaria por familiares. Quando a polícia recebe a denúncia e tenta intervir, muitos se negam a receber ajuda. Preferem ficar calados.
Para a promotora, a violência psicológica, em alguns casos, é mais nociva que a física. E não são só os xingamentos que produzem danos, mas também a privação de direitos - desde o direito de gastar a aposentadoria ao de escolher o que vestir. "A pior coisa que tem é ser invisível dentro de casa. Não é o filho ou o neto bater, dar uma tapa. É a tapa moral, psicológica que se transforma numa ferida difícil de cicatrizar e que também leva a morte", relata a promotora.
Quadro dramático
De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde em 2008, cerca de dois milhões de idosos são vítimas de agressão todo ano no Brasil. O estudo mostrou que agressões eram a segunda causa de internação no SUS.(Diário de Natal)
Hugo Tavares de Carvalho - 4.289.800-